Para muitos trabalhadores brasileiros, conseguir se aposentar e continuar trabalhando vem deixando de ser uma exceção para se tornar um fato comum. Em Mato Grosso, essa realidade também começa a despontar e a chamar a atenção. O Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos de Mato Grosso (Sindapi-MT) tem em seus quadros muitos associados que seguem ativos, mesmo depois de terem se aposentado.
O fenômeno é positivo, pois aumento do contingente de aposentados que seguem trabalhando no país é a visível mudança de comportamento das empresas e instituições em relação à contratação de pessoas mais velhas e experientes.
O presidente do Sindapi, Francisco Delmondes Bentinho, explica que muitas empresas vêm demonstrando interesse ter em seus quadros trabalhadores da terceira idade. “A gente tem notado esse acontecimento, uma mudança de olhar para a capacidade produtiva das pessoas da terceira idade. Os empregadores estão percebendo que a diversidade etária, a troca de experiência na convivência entre trabalhadores de diferentes gerações é positiva para instituições, sejam privadas ou públicas”, argumentou o líder da categoria.
O próprio presidente do Sindapi é um exemplo dessa nova mentalidade na gestão de pessoas por parte dos empregadores. Aposentado, Bentinho é jornalista e advogado por formação, com 80 anos, segue trabalhando em uma instituição pública estadual. “A aposentadoria não significa o fim da vida produtiva. É, na verdade, um momento de renovação, de transição e pode ser também uma oportunidade para uma guinada criativa e produtiva”, afirmou Bentinho.
O presidente do Sindapi salienta ainda que pessoas mais velhas são detentoras de experiências pessoais, de trabalho em equipe e de vida que são únicas e valiosas. “O conhecimento acumulado, a sabedoria e a responsabilidade dos que já cometeram erros e também aprenderam muito não podem ser simplesmente ignorados e descartados pelas organizações, pelas empresas. Havendo saúde, nada impede que qualquer pessoa com mais de 60 anos possa seguir trabalhando, produzindo, contribuindo e compartilhando saberes e aprendizados com os mais jovens”, explicou Francisco Bentinho.
Outro bom exemplo de aposentado ativo no mercado de trabalho é o motorista Moacir Figueiredo de Oliveira, 68 anos. Filiado ao Sindapi-MT, Moacir garante que não pretende parar de trabalhar enquanto tiver saúde e força. Atualmente, trabalha como terceirizado para a Prefeitura de Cuiabá.
Segundo Moacir Figueiredo, os principais motivos para continuar trabalhando como motorista são dois: a necessidade de complementar a renda do benefício e a certeza de que não se adaptaria em deixar de trabalhar. “O trabalho ajuda a saúde da gente, mantém a cabeça ocupada, o corpo em atividade. Eu gosto muito de trabalhar. Se tem uma coisa que me deixa muito satisfeito é chegar ao meu trabalho, eu sou outra pessoa. Se eu fico a toa em casa parece que tá faltando alguma coisa”, relatou o motorista.
Para Moacir, parar de trabalhar seria muito ruim, não apenas financeiramente, mas também psicologicamente. “Eu dou graças a Deus que eu ainda tenho saúde e força para continuar trabalhando, por ter esta oportunidade. Sou um motorista na ativa ainda e isso é um orgulho para mim. Não saberia viver sem meu trabalho. Eu só tenho a agradecer ao Sindapi por ter me ajudado quando dei entrada na minha aposentadoria. E agradeço ainda por não ser obrigado a ficar encostado, sem ter o que fazer todo dia ao acordar”, concluiu Moacir.
Segundo o IBGE, atualmente, o país conta com um contingente superior a 7 milhões de trabalhadores acima de 60 anos. E a força de trabalho no país deverá ficar cada vez mais nas mãos de quem é experiente.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que, em 2040, 57% dos trabalhadores terão mais de 45 anos. E uma pesquisa inédita de uma plataforma de emprego para quem tem mais de 50 anos indica que 57% das empresas querem contratar essas pessoas.
No primeiro trimestre deste ano, Mato Grosso apresentou o segundo melhor desempenho do país em geração de novas vagas. Foram criadas 151.482 vagas de emprego apenas neste ano no estado, o que indica uma taxa de crescimento de 3,15%. Em meio a esta expansão, os trabalhadores maiores de 60 anos seguem conquistando espaços.